reportagem especial

Jovem democracia: em três meses, cidade tem o dobro de títulos eleitorais emitidos a adolescentes em relação a 2020

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Do alistamento eleitoral à representatividade em cargos eletivos, a presença dos jovens na política brasileira ganhou força em 2022 e ocupou debates e ações, sobretudo nas redes sociais. É que, no início do mês de março, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou que o Brasil tinha a menor participação de jovens de 16 a 18 anos no eleitorado brasileiro de toda série histórica. O Rio Grande do Sul e Santa Maria acompanharam a tendência nacional, igualmente em queda. E é justamente nessa faixa etária, que ainda dispõe do alistamento e voto como não-obrigatórios. Ocorre que, para aumentar essa adesão, o TSE e os Tribunais Regionais Eleitorais dos 26 Estados e do Distrito Federal, buscaram as redes sociais, como o TikTok, Instagram e Twitter para falar de forma mais direta com os jovens que têm 15 anos e terão completado 16 até o próximo dia 2 de outubro, até aqueles e aquelas que completam 18 anos em 2022. Recentemente, a Semana do Jovem Eleitor promoveu uma grande ação com a participação de celebridades, influencers e entidades da sociedade civil, para sensibilizar o jovem a obter o título eleitoral. Os efeitos chegaram rápidos. Entre os dias 14 e 18 de março de 2022, foram emitidos 96.425 novos títulos em todo o Brasil. A procura foi maior entre as mulheres: 52.561. Outros 43.864 homens também buscaram pelo serviço. Somente em Santa Maria, outro recorte: o alistamento não-obrigatório de adolescentes de 15 a 17 anos nos três meses de 2022, mais que dobrou em relação a 2020, na última eleição.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Pedro Piegas (Diário)

Carlos Vinicios Cavalcante, servidor do TRE-RS e coordenador da Escola Judiciária Eleitoral, analisa esse cenário e contextualiza alguns motivos para que, até então, a procura estivesse baixa:

- Quais fatores ajudariam explicar tal situação em um país como o Brasil, notadamente conhecido como uma "jovem democracia"? Apesar de não ser objeto de estudo direto da Justiça Eleitoral, várias causas aparentam convergir para explicar esse baixo interesse. O acesso mais tardio ao mercado de trabalho e uma maior liquidez dessas relações formalizadas, parecem afastar o jovem cidadão de participar de estruturas "institucionalizadas". Em tempos de modernidade líquida, com comunicação expressa instantaneamente nas redes sociais, o processo de participação que envolve cadastramento, registro e manifestação presencial no dia das eleições, com o comparecimento aos locais de votação não parece atrativo para quem está acostumado a fazer tudo a partir de um clique no mouse.

De forma semelhante, o diretor do Movimento Voto Consciente e pesquisador do Laboratório de Política e Governo da Unesp/Araraquara, Bruno Silva, completa ao defender que o tempo mais analógico da participação política por meio do voto, o qual exige acompanhamento parlamentar das ações do Executivo, por exemplo, não identifica claramente o peso das ações para os jovens:

- Eles se sentem desestimulados a participar. Em outros termos, os jovens gostam de participar através de movimentos por causas específicas, protestos e manifestações, além de associações estudantis e sobre temas do seu entorno. No entanto, esforços no sentido da valorização do voto são fundamentais para incentivar a aderirem de modo mais intenso à democracia eleitoral, uma vez que tais decisões via voto são decisivas para o dia a dia da cidade, do Estado e do país.

NOVIDADE

A Escola Judiciária Eleitoral, coordenada por Cavalcante, promove apresentações, cursos e debates que abordam temas ligados à cidadania, à democracia, à participação política, ao direito de votar e ser votado(a). Eixos temáticos, como funcionamento da Justiça Eleitoral e do processo eleitoral, representação de grupos subrepresentados politicamente (como participação feminina, de indígenas, LGBTQIA+ e negros), segurança do Processo Eletrônico de Votação e desinformação (fake News) são trabalhados. O objetivo é ampliar os conhecimentos da sociedade sobre a atuação da Justiça Eleitoral. O programa é uma parceria inédita entre o TRE-RS, Secretaria da Educação do Estado e entidades representativas dos estudantes gaúchos.

RENOVAÇÃO

Outro aspecto enfatizado pelo coordenador da Escola Judiciária Eleitoral, é a de que os partidos políticos talvez precisem avançar na renovação de seus filiados e seus quadros políticos.

- É preciso que haja uma renovação constante nos seus quadros, de modo a acompanharem a própria transição etária da população. Temas como o já tratado mercado de trabalho do jovem, políticas educacionais, principalmente para os ensinos Médio, Técnico e Superior, desenvolvimento sustentável e diversidade racial e sexual são agendas que despertam o interesse desse eleitorado e ultimamente aparecem em um segundo plano nas grandes campanhas eleitorais. Quando candidatos dialogam com tais pautas, esse eleitorado tende a responder, elegendo candidatos jovens que defendem tais bandeiras - explica Cavalcante. 


EM APENAS TRÊS MESES DE 2022, ALISTAMENTO NÃO-OBRIGATÓRIO MAIS QUE DOBROU EM RELAÇÃO A 2020

Em Santa Maria, o setor eleitoral ainda não se recuperou plenamente do período pandêmico, que apresentou queda na procura para confecção do título, sobretudo, entre os jovens ao considerar os anos de 2020 e 2021. Ao considerar o público entre 15 (que completam 16 até o dia da eleição, em 2 de outubro deste ano) e 17 anos, cuja a emissão do documento é facultativa, os números registrados seguem inferiores ao período anterior à pandemia. Por outro lado, o que chama atenção é os primeiros três meses de 2022 já superam todo o ano 2020, quando ocorreu a última eleição.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Pedro Piegas (Diário)

Vale lembrar que ambiente online tem sido um aliado neste ano por meio de campanhas nas redes sociais. Prova disso foi a motivação do estudante do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (Ctism), Henrique Antonio da Cas de Almeida, de 16 anos. Ele acompanhou as movimentações e compareceu à Justiça Eleitoral para fazer o documento.

- É importante para o país, pois essa é a forma que a gente tem de decidir quem vai governar e, assim, melhorar o Brasil - relata Henrique.

De acordo com os dados disponibilizados pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE-RS), a faixa etária do Henrique (16 anos) era, até então, a que menos procurava pela emissão do título. Os dados levam em consideração os últimos dois anos eleitorais (2018 e 2020). O TRE-RS informou apenas os dados dos anos eleitorais, pois não há fechamento de cadastro em anos em que não ocorrem eleições.

Nas eleições de 2018, 174 santa-marienses entre 15 e 16 anos emitiram o título de eleitor. Na pandemia, no período de cadastro para as eleições de 2020, este número reduziu e apenas 43 jovens fizeram o documento. Já neste ano, o registro aponta 166 jovens cadastrados.

Em comparação ao primeiro ano de pandemia, a tendência de recuperação de registros também é observada entre os jovens de 17 anos incompletos. Nesta faixa etária, a procura aumentou passando de 234 para 421 neste ano. 

Uma das pessoas que não pretende fazer o título neste ano é o estudante do colégio Riachuelo, Juan Travassos, de 17 anos.

- Não quero fazer o título ainda porque eu não quero me envolver com política - argumenta Juan.

Bruno Silva, diretor do Movimento Voto Consciente e pesquisador do Laboratório de Política e Governo da Unesp/Araraquara, observa que, de modo geral o jovem está muito distante da política partidária e eleitoral:

_ Isso é reflexo da descrença da política que assola grande parte da sociedade brasileira. No entanto, isto não é igual a afirmar que o jovem não gosta de política. Em quase 10 anos trabalhando com Educação Política de jovens é fácil identificar suas predileções em se tratando de participação política. Por serem de uma geração mais conectada e que, gradativamente, nos últimos anos, tem se informado de assuntos políticos através das redes e meios digitais em paralelo com a mídia mais tradicional, principalmente a TV, os jovens desejam resultados mais imediatos.

RECUPERAÇÃO EM 2022

Quando observado toda a faixa etária 15, 16 e 17 anos em Santa Maria, o ano de 2018 registrou 742 novos eleitores aptos. Em 2020, foram 277 cadastros. Neste ano, 587 jovens já procuraram a justiça eleitoral até o momento para realizar o alistamento, isto é, mais que o dobro do que a última eleição.

OBRIGATORIEDADE

A emissão do título de eleitor é obrigatória para pessoas com 18 anos. Em 2020, e neste ano, os dados se assemelham em Santa Maria: cerca de 1 mil eleitores aptos nesta faixa etária. Em 2018 foram emitidos 2.475.

A baixa adesão entre os mais jovens se repete na emissão entre pessoas de 22 e 25 anos. Este público, que já deveria estar regularizado na Justiça Eleitoral desde 2018, mantém o mesmo nível de procura nos três anos analisados pela reportagem, com a emissão de cerca de 3 mil títulos nesta faixa etária.

Santa Maria

Emissão de títulos eleitorais entre 15* a 17 anos 

2018 - 742 

2020 - 277

2022 -  587 *

*Até março


Emissão de títulos aos 18 anos 

2018 - 2.475 

2020 - 1.174

2022 - 1.158*

*Até março

*Que completam 16 até 2 de outubro


Novos títulos Estado, até março de 2022

16 anos - 6485 

17 anos - 11.238 

18 anos - 25003 


EMISSÃO DO TÍTULO

Jovens que desejam fazer o primeiro título podem acessar o site do TRE-RS até 4 de maio. Na solicitação são necessários os itens abaixo:

  • Documento de identidade oficial com foto (foto frente e foto verso): pode ser RG, carteira de trabalho, carteira profissional (OAB, CREA, etc);
  • Foto estilo selfie (foto de si mesmo) segurando o documento de identificação, mostrando o lado da foto, próximo ao rosto;
  • Comprovante de residência emitido ou expedido nos últimos três meses;
  • Comprovante de quitação do serviço militar, para pessoas do gênero masculino (homens cis e trans), no ano que completarem 19 anos.
  • Caso opte pelo atendimento presencial, os mesmos documentos devem ser entregues, com exceção da foto. Para jovens entre 15 e 17 anos não é necessário acompanhamento de pais ou responsáveis.
  • O documento, que agora é digital, pode ser acessado no aplicativo e-Título entre três e oito dias úteis após a solicitação


(COLABOROU LAURA GOMES)


NAS PREFEITURAS, CÂMARAS E ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, REGIÃO CENTRAL TEM JUVENTUDE REPRESENTADA

É de Santa Maria o deputado estadual mais jovem do Estado: Giuseppe Riesgo, 26 anos. Desde 2018, outras cidades da Região Central têm apresentado uma nova geração de políticos. Entre eles, o prefeito de São Gabriel, Lucas Gonçalves Menezes, que recém completou 30 anos, o vice-prefeito de Ivorá, Jordano Pase Moro (PP), de 27 anos; e o vereador de Formigueiro Pablo Garcia Milani, atualmente com 20 anos, mas eleito aos 19, sendo o vereador mais novo entre os 39 municípios da área de cobertura do Diário.

Em comum, todos relatam o objetivo de trazer renovação e credibilidade à política. Veja abaixo:


Giuseppe Riesgo (Novo), 26 anos - Deputado estadual

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Foto: Celso Bender (Divulgação)

"A política pressupõe representação, mas também renovação. Quando resolvi participar ativamente, o fiz por julgar que existia um vácuo, justamente, nesses dois eixos. Em outras palavras, boa parte da sociedade clamava por mais liberdade, mas também mudança. Minha eleição se deu nessa esteira: na falta de representação liberal e no sentimento de esperança por algo diferente e novo. Busquei me preparar e representar as pessoas, nesse sentido, trazendo ideias de liberdade e as praticando sem as amarras e vícios da velha política que tanto surra a nossa população. Identifiquei isso participando ativa e voluntariamente de entidades liberais como o Students for Liberty e o Clube Farroupilha (entidade em que cresci, me desenvolvi e, posteriormente, tive a honra de presidir). Desde então, a participação na política tem se mostrado desafiadora. Não é fácil fazer política sem participar dos velhos acordos, dos mesmos incentivos e em conluio com um sistema já sedimentado e, infelizmente, bastante fisiológico. Mas alguém precisa tentar e, julgo, ser esse um dos principais papéis dos liberais na política atualmente. Eis os motivos que me fizeram entrar e que me estimulam a seguir contribuindo e representando as pessoas no Parlamento gaúcho."

Giuseppe foi eleito como deputado estadual no Rio Grande do Sul nas eleições de 2018, com 16.224 votos. Atualmente, é o mais novo entre os 55 parlamentares da Assembleia. Legislativa.


Lucas Gonçalves Menezes (União Brasil), 30 anos - Prefeito de São Gabriel

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Foto: Amanda Chagas Hickmann/ Prefeitura de São Gabriel (Divulgação)

"Sempre tive interesse pela vida pública. Meu avô Inocêncio Gonçalves foi prefeito de São Gabriel, meu pai, Glei Menezes, foi prefeito de Rosário do Sul. Então, cresci ouvindo os bons feitos de ambos como homens públicos. Antes de me candidatar em São Gabriel, tive a oportunidade de trabalhar na Assembleia Legislativa. Concorri pela primeira vez em 2020, como candidato a vice-prefeito do nosso sempre prefeito Rossano (Rossano Gonçalves) que em mais uma demonstração de elevado espírito público e comprometimento com nossa região, renunciou ao cargo para nos representar no centro político nacional. Tenho a missão de dar continuidade a um governo que vem se mostrando exitoso, trabalhando muito, com muita responsabilidade. Temos visto nos últimos tempos um maior interesse dos jovens pelos temas políticos. Esse interesse é demostrado pela discussão acerca destes temas até a candidatura e o aumento da participação de jovens em cargos eletivos. Considero este fato muito positivo, porque as decisões políticas de hoje serão decisivas para o futuro de todos, e a participação do jovem neste processo garante um olhar diferente, de uma geração com visões, desejos, hábitos e valores diferentes. Ademais, acredito que também teremos papel importante no resgate da credibilidade na classe política."

Lucas concorreu como vice de Rossano Dotto Gonçalves (PL), em São Gabriel. Eles receberam 16.511 votos, o que representou 52,11% dos votos válidos nas eleições de 2020. Após Rossano renunciar ao cargo, Lucas assumiu como prefeito em 31 de março deste ano.


Jordano Pase Moro (PP),27 anos - Vice-prefeito e secretário de Saúde de Ivorá

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Foto: arquivo pessoal

"Tenho 27anos e sou formado em Odontologia. A minha vida política sempre foi próxima , porque meu pai sempre incentivou desde cedo. Ela começou em 2019, quando eu tinha 24 anos e assumi a pasta da Saúde no meu município. Em 2020, já concorri a vice com uma esperança de fazer coisas boas para os nossos munícipes. O êxito veio nas eleições e, com ela, a responsabilidade de tocar um município pequeno com uma arrecadação pequena. Mas afirmo que o mais importante eu tenho, é era o ânimo de pensar que nós podemos fazer a diferença. Com o andar do governo, retornei a ser secretário de Saúde. O mais gratificante aconteceu quando Ivorá ganhou um prêmio, em Brasília, sendo o Melhor Município em Saúde de até 30 mil habitantes do Brasil. A minha juventude, na carreira política, é um aprendizado diário, o qual eu não teria somente no meu consultório. Eu aproveito cada dia dentro do poder público porque nós, jovens, estamos em um mundo muito dinâmico e, hoje, os valores estão um pouco invertidos. Mas, minha essência é trabalhar com respeito e dedicação aos meus princípios."

Jordano foi eleito como vice na chapa com o prefeito Saulo Piccinin (PT), em ivorá. Eles receberam 890 votos, o que representou 55,94% dos votos válidos nas eleições de 2020.


Pablo Garcia Milani (MDB),20 anos - Vereador de Formigueiro

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Foto: arquivo pessoal

"Logo que completei 16 anos já compareci ao cartório eleitoral para fazer o meu título de eleitor, por entender a importância de nós jovens estarmos ativos na vida política e contribuirmos com uma melhor escolha dos nossos representantes. Me refiro a uma pessoa ativa, não só como um candidato, necessariamente, mas como um jovem que entende o funcionamento e acompanha o cenário político em suas esferas, expõe seu posicionamento sobre as decisões tomadas e contribui, assim, para escolhas mais assertivas e uma melhor formação da opinião pública. Esse foi um dos fatores que me motivou, de fato, a entrar neste meio. Sentia que não existia candidatos, no âmbito local, que representassem as minhas ideias e o modo de agir que eu esperava de um político, sempre próximo e ativo na comunidade, que prioriza a transparência em primeiro lugar, e com um olhar de economia perante o recurso público. Por isso, coloquei o meu nome a disposição, para ser a voz dessas pessoas, e obtive êxito tendo apoio massivo da juventude, que viu em mim a esperança de que o parlamento seria pautado por demandas positivas e necessárias em suas vidas."

Pablo foi um entre os nove vereadores de Formigueiro. Ele recebeu 186 votos nas eleições de 2020.

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